quinta-feira, 14 de março de 2013
Sobre a arteira
A aposentadoria faz o tempo passar diferente. É tempo de
cuidar dos pequenos detalhes, de despertar os talentos antigos, adormecidos.
Maria Lucia é aposentada, mas não só isso: é arteira, ou melhor, artesã. No seu
cantinho da bagunça, objetos comuns ganham alma. É no seu ateliê que, entre uma
cuia e outra de chimarrão e uma música e outra do Neil Diamond, que ela cria,
em todas as estações do ano. Maria Lucia hoje tem tempo para escolher o adereço
certo da cuia – lilás no último sábado, cor da espiritualidade e da
transformação –, para fazer florais, para cuidar da família e da casa. Da
cozinha, surgem pratos elaborados cuidadosamente; as plantas já podem receber o
carinho que os dias de números não proporcionavam. A casa na Oswaldo Cruz é o
lar de filhos, netos e vizinhos. Ali, todos encontram atrativos cheios de
significado, como os objetos feitos por Maria Lucia. A decoração ocupa todos os
cantos da casa. Em cada objeto, uma alma e horas de dedicação. A casa de uma artesã
é sempre mais charmosa e menos impessoal. A casa de uma arteira é sempre mais
convidativa do que a vitrine.