Fabiane De Carli Tedesco
Uma horta nasce das utopias, dos achismos caboclos e das
pesquisas em filmes e livros, como o Manual do Arquiteto Descalço, que deixou
de ocupar a estante para ocupar a cabeça de 15 pessoas que compõem o Carpindo
um Lote, projeto de agricultura urbana surgido em janeiro de 2013. Entre elas,
o arquiteto Thiago Scussiato Merlo, filho de agricultores que trabalhou na
terra até os 11 anos. "Plantei muito canteiro e este é o meu
retorno", revela. "Volto às raízes 22 anos depois. Volto a brincar no
mato, a brincar na terra."
O projeto foge da instrução programada do vídeo game,
lembrando como é bom mexer na terra, tomar banho de chuva e sair do
apartamento, como conta um dos membros do Carpindo um Lote, o tatuador Adnilson
Rafael Telles. É no quintal de casa, que a horta ganhou vida. Dar valor ao que
se faz com as próprias mãos e aos temperos colhidos na hora é o que move outro
membro do grupo, o publicitário Sérgio Franco, que já ensina o filho Lucas
Franco sobre o valor da terra. Ao lado dos amigos, Sérgio se lança em um
esforço vegetariano, já que, nas palavras de Adnilson, a cada escolha pela
carne, um prego a mais no caixão.
Com as mãos na terra surgem descobertas, verdadeiros
presentes de Deus. Descobertas e presentes que não estão nas prateleiras dos
supermercados, mas que são ricos em vitaminas e podem ser transformados em
chás, receitas e remédios naturais, como lembra a professora Fernanda Schnorr
Grando. Entre os encontros dos amigos na horta, surgiu uma ideia: El Toron,
marca de molho de pimenta criada pela designer Manu Benvenutti, que também se
rendeu aos prazeres da horta.
O grupo de amigos, formado por profissionais de áreas
distintas, entende o Carpindo um Lote como "muito mais do que uma ação de
fazer canteiros, plantar e colher", como diz Juliane Franco, formada em
matemática, física e psicologia transpessoal. "É um movimento com
ideologia 'anarco-libertária', que tem relação com saúde, sustentabilidade,
autonomia, resistência às corporações e até espiritualidade."
Para ela, as mudanças só acontecem a partir da nossa vontade
aliada à ação. "Como um grupo de amigos que gosta de se reunir para
conversar, cozinhar e comer, sempre nos preocupamos com a qualidade do que
consumimos. Estamos nos vendo em um mundo cercado por agrotóxicos e alimentos
aditivados e artificiais, sem preocupação nutricional, voltado ao consumo
excessivo de tudo e que muitas vezes nos adoecem ao invés de nutrir."
Assim, o movimento partiu do desejo de mudança.
"Enquanto ninguém começar, nada acontece e
continuaremos sempre nas mãos de multinacionais alimentícias, que se apossaram
do que é mais valioso para a humanidade: as sementes. Se todo mundo cultivasse
algo no seu quintal ou em um terreno baldio próximo, muita coisa seria
diferente. A conexão com a terra faz muito bem, as pessoas se distanciaram
disso, muitas já nem se dão conta de qual estação do ano estão. O plantio nos
faz observar as fases da lua, como está o clima e o que se come em cada época
do ano. Tudo isso nos faz mais saudáveis. E, de 'brinde', se ganha a
convivência com os amigos."
Difundir esta ideia na internet pode ser interessante para
mostrar para esta geração que há mundo além das grandes corporações.
"Queremos mostrar para as pessoas que não é difícil cultivar o que
comemos. Aliás, é muito agradável poder colher e colocar o alimento na mesa.
Criamos a fan page para documentar os nossos passos, os nossos erros e os nossos
acertos. Queremos estimular que outros sigam o nosso exemplo."
"Vá carpir um lote!"
Conheça o Carpindo um Lote
<https://www.facebook.com/CarpindoUmLote>, página com ideias sobre
agricultura urbana, com tudo para quem quiser iniciar uma horta ou mantê-la. Em bom Catarinês ,
"vá carpir um lote!"