Fabiane De Carli Tedesco
Quem assiste a filmes estrangeiros ou visita outros países,
pode ter a impressão de que a vida é fácil, quando se enxerga somente o glamour
desses lugares. A história que o Jornal Sul Brasil apresenta hoje é uma
história que, embora seja bela, mostra que a vida em outro país depende muito
do empenho de quem, corajosamente, abandona a sua zona de conforto.
Marlon Valesan, nascido em Toledo (PR) em 13 de maio de
1980, coleciona momentos incríveis do outro lado do oceano. A reportagem
procurou Marlon na intenção de conhecer um pouco da sua vida em Londres e
escrever sobre as suas experiências. Entra elas, o seu trabalho como chef,
tendo ele cozinhado para a família real, e o seu encontro com a sua outra
metade, que é de Passo Fundo (RS), mas estava explorando as paragens inglesas,
assim como Marlon.
Em Cascavel (PR), na Universidade Paranaense (Unipar), nosso
personagem se formou em Engenharia
Agroindustrial. Naquela época, não imaginava que um dia iria
se formar em Culinary
Arts no Westminster College, em Londres. Foi em julho
de 2005 que sentiu a necessidade de "algo mais". "Quando
terminei a faculdade, me interessei em estudar inglês e me desligar da vida
cotidiana do Brasil. A ideia de estudar inglês, conhecer novas pessoas, países
e cidades, outras culturas, comidas e sabores, de estar no coração da Europa,
me encantava muito. Então, vim em busca do desafio."
Claro que o estranhamento surgiu, por conta das diferenças
culturais. Marlon diz que as diferenças são grandes entre o Brasil e a
Inglaterra, sendo que a formalidade é uma delas. "Palavras como 'excuse
me', 'please' e 'sorry' são extremamente importantes. Londres não é apenas
Inglaterra. Londres é um centro de congregação de diferentes etnias e culturas
que convivem entre si de maneira harmônica, onde não existem
preconceitos."
Foi no mesmo ano de 2005 que Marlon encontrou a sua outra
metade, Carlinha. No mês de dezembro, quando inicia o inverno no hemisfério
norte, os dois se conheceram em um pub. "Depois de alguns encontros,
percebi que tínhamos muito em
comum. Após um ano, pedi ela em noivado no London Eye."
Hoje, o paranaense que tem família no Oeste de Santa
Catarina, trabalha com transporte e logística em Londres. Até chegar
onde chegou, muita estrada foi percorrida. "No início foi muito difícil,
pois existe a barreira da língua. Como qualquer outro estrangeiro, comecei de
baixo. Fui faxineiro do Chelsea Footbal Club e de um festival de música, fui
garçon, segurei placas de propaganda e por aí vai".
Após algum tempo, conquistou o seu espaço com muito suor,
sendo que o estudo foi fundamental para o seu crescimento profissional. "A
oportunidade que tive no meu primeiro emprego como chef me custava 16 horas
diárias no Inner Temple", lembra.
Dos momentos mais marcantes
Nos oitos anos já vividos em Londres, alguns momentos
ficaram com mais intensidade na memória de Marlon. "Primeiro, foi ter
conhecido my other half, minha esposa. Outro foi quando participei dos 400 anos
de aniversário do Inner Temple, fundado pelos Cavaleiros Templários. Entre os
ilustres convidados estavam Prince Charles, Gordon Brown (então
primeiro-ministro) e Queen Elizabeth. Eu nem podia acreditar que estava lá. Foi
tudo muito legal."
Menos um na fila de emprego
"Eu trabalhava em uma agência de empregos aqui em Londres. Era mais ou
menos assim: você chegava na porta da agência lá pelas 5h30 e ficava na fila
esperando pelos trabalhos temporários. Se alguém ficava doente em alguma empresa,
eles ligavam para essa agência pedindo alguém para cobrir a pessoa que faltou.
Podia ser por um dia ou por um mês."
Era o mês de janeiro e, no começo do ano, conseguir trabalho
temporário é bem complicado em Londres, como revela Marlon. "Fui enviado
para o Inner Temple para cobrir um faxineiro na cozinha. A princípio era para
eu ficar só uma semana. Era uma cozinha com 16 chefs e seis faxineiros. Em um
dos dias, um dos chefs se cortou no meio do serviço. Ele foi para o hospital e
eu acabei largando o que estava fazendo para ajudar os chefs. Uma loucura, você
não sabe para que lado correr."
No dia seguinte, o brasileiro foi chamado pelo chef
executivo, que ficou sabendo o que tinha acontecido. Para a sua surpresa, foi
convidado a ocupar o cargo de commis chef. "Foi muito legal saber que não
teria que me preocupar em trocar de emprego sempre. Depois de cinco meses,
ingressei o curso de Culinary Arts. Depois de completar o curso, fui promovido
a chef de partie. Logo, trabalhei com chefs no Gherkin como chef de canapés.
Por fim, fui trabalhar no Nomura Bank, em Canary Wharf. Hoje
posso dizer que valeu a pena. Já tenho uma estabilidade e gosto do fato de
poder passar as minhas férias em diferentes partes da Europa."