Há 23 anos, Enólia Maria Pereira usa o vidro como
matéria-prima de sua arte
Fabiane De Carli Tedesco
Eles constroem sonhos com as próprias mãos, com a cabeça e
com o coração. Artesãos (ou poderiam ser chamados de artistas?) fazem parte da
história da humanidade há muitos séculos, sendo que os primeiros surgiram no
período neolítico (6.000 a.C), na época em que o homem aprendeu a polir a
pedra, a fabricar a cerâmica e a tecer fibras animais e vegetais. Ontem, dia 19
de março, foi dia de comemoração para os artesãos, já que era o Dia Nacional do
Artesão.
Na Rua Barão do Rio Branco, encontramos uma pessoa que vive
do artesanato há 23 anos: Enólia Maria Pereira. Ali, é o seu ateliê e a sua
galeria. A matéria-prima escolhida, o vidro, é moldada por Enólia com
criatividade. Suas peças, de formas inusitadas e cores vibrantes, são muito bem
recebidas não só aqui, como em diversas outras cidades brasileiras.
A arte de dona Enólia é decorativa e também utilitária. Cada
peça possui um significado. A escolha do vidro se deu porque em Chapecó, na
época em que Enólia começou, ainda não existia ninguém que trabalhasse com o
material. “Quis trazer esta ideia para Chapecó para enriquecer as obras dos
arquitetos”, conta. Formada em desenho artístico e em decoração de interiores,
Enólia dá sentido às portas e aos espelhos, aderindo aos mais diferentes
estilos, do clássico ao moderno.
Nascida em Guaporé (RS), Enólia está em Chapecó há mais de
40 anos. “Já me sinto chapecoense. Sou chapecoense de coração e de alma.” Ela
já criou muitas técnicas e diz que cada peça é única, já que procura não fazer
o mesmo sempre. Se dedica à milenar técnica do jato de areia e à técnica da
fusão de vidros, utilizando um forno de alta temperatura. É com o calor que a
arte de Enólia ganha forma e cor.
Dos vidros que sobram das vidraçarias, nascem peças cheias
de personalidade e de misticismo, a exemplo das mandalas, carregadas de
simbologias, como a flor de lótus, considerada sagrada no oriente. Algumas
levam o Olho de Órus, outras o espetro solar. Experiências religiosas e de
vida, encontradas nos objetos que, quando se chocam, produzem sons que se unem
às cores e às formas, em uma harmonia que perpetua o sentido da arte.
“A arte nos traz coisas belas, fascinantes, atordoantes,
maravilhosas. É para isso que existe.” (Ferreira Gullar)