quinta-feira, 14 de março de 2013

“Porque nenhuma mulher é como aquela da revista”

A publicidade e a propaganda acompanham as diferentes fases da mulher. Ao longo das décadas, muita coisa mudou. Mas, há o que permaneça exatamente igual

Fabiane De Carli Tedesco


As mudanças de comportamento, as revoluções femininas, as velhas e as novas prioridades. Tudo isso pode ser encontrado em anúncios de jornal, revista, rádio, TV ou internet. A publicidade e a propaganda acompanham as incontáveis fases da mulher. E, todas as mulheres, independente do estilo, provavelmente tenham motivos para comemorar o Dia Internacional da Mulher.
Juliane Franco, mãe de dois filhos, formada em matemática, física e psicologia transpessoal, é também empresária. Sócia da HAKA Multicomunicativa, Juliane trabalha com a criatividade, ao lado do esposo Sérgio Franco, publicitário. “Em uma agência, até mesmo o ato de atender o telefone precisa ser criativo”, comenta ela.
Para os dois, a mulher foi e continua sendo isca do consumo. “Da década de 1950 para cá, muita coisa mudou, como o poder aquisitivo da mulher. Se antes ela pedia para o marido, hoje a mulher compra com o próprio dinheiro aquilo que quiser. Mais do que isso: a mulher tem papel fundamental na hora da compra. Entretanto, alguns aspectos continuam iguais, como o fato da mulher ainda ser isca do consumo.”
Embora trabalhe com publicidade e propaganda, o casal é um tanto anti-consumista. Juliane, por exemplo, preza pela consciência no consumo. Quando um cliente tem uma ideia apelativa, os dois tentam convencê-lo de fazer algo diferente. “Temos clientes compatíveis ao nosso estilo de trabalho. Tentamos mostrar que uma empresa pode ser sustentável de outras maneiras”, diz Sérgio.
A esposa lembra de uma antiga revista Ele & Ela, de 1972, que mostrava a pornografia de maneira menos agressiva do que hoje. “As mulheres deixavam aparecer, no máximo, os seios. Hoje, além das fotos serem mais explícitas, as mulheres das revistas apresentam uma realidade distante, por conta do Photoshop. Em segundos, olhando uma revista de moda, a mulher sente uma sensação de depressão, porque nenhuma mulher é como aquela da revista.”
Sérgio fala das pin-ups de antigamente que, embora descortinassem uma sensualidade inocente, longe da vulgaridade atual, também tinham o mesmo apelo. Na sua opinião, o que se vê nas revistas, principalmente nas atuais, é uma mensagem nítida que remete ao corpo, sempre ao corpo. “Tudo está relacionado ao corpo e pouco à inteligência”, lança. E, quando a inteligência é destaque, é de forma estereotipada e com o intuito de conquistar alguém do sexo oposto.

Mulher Objeto

O publicitário realizou uma pesquisa com o tema “Mulher Objeto – A Representação da Mulher na Publicidade”, que serviu de base para um debate na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
O cunho sexual da publicidade ao longo das décadas, a representação da mulher ideal nos comerciais e a relação entre a mulher e a bebida são apresentados na pesquisa. Nela, há também indícios de um antigo preconceito que envolve mulheres e direção. Mas, o problema maior se dá na erotização, que afeta o crescimento das meninas. Isso porque a exploração da imagem feminina na mídia causa não somente depressão como distúrbios alimentares, ao passo que doenças como anorexia e bulimia já são parte do universo das meninas de 5 e 6 anos.
Segundo a cientista social Tânia Montoro, as revistas femininas são carregadas de estereótipos e funcionam como um consultório amoroso: ensinam como fisgar, como amarrar um homem, colocando a mulher no papel de submissa, que precisa sempre agradar o sexo oposto. E, ao que tudo indica, ser agradável o suficiente está em um nível distante, talvez distante demais para os meros mortais.

Vice-campeão mundial em cirurgias plásticas – perdendo apenas para os Estados Unidos – , o Brasil registra o movimento de milhões de reais em função da famosa indústria da beleza. Conforme pesquisa divulgada recentemente pela da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), só no ano de 2011 foram realizados mais de 905 mil procedimentos no País, o que representa um aumento de 43,9% em relação ao ano anterior. Em quatro anos, o crescimento foi de 97%.