Entre a Rui Barbosa e a Marechal Floriano Peixoto, a venda
permanece, há 51 anos, colecionando histórias
Fabiane De Carli Tedesco
O cheiro de café moído na hora convida quem passa para
entrar. A antiga venda da esquina recebe todos os dias, há mais de cinco
décadas, visitantes desejosos por uma boa conversa. Domingos Albino Benetti, 76
anos, toma conta do lugar desde o ano de 1962. “É vida”, comenta o homem de
poucas palavras, pelo menos quando se trata de falar com a repórter.
Entre a Rui Barbosa e a Marechal Floriano Peixoto, está a
venda que Pedro Borsatto, 83 anos, frequenta todos os dias. Ele é o dono de um
edifício muito famoso na cidade, o Edifício Borsatto, localizado na Barão do
Rio Branco. Com 21 andares, o Borsatto é conhecido por ser um prédio de
estudantes. Borsatto foi açougueiro e o seu estabelecimento era próximo da
venda de Benetti. “Eu venho aqui para ajudar ele a lidar com os bandidos,
passar as horas, botar a conversa em dia.”
Na parede da venda, uma foto de 1963 do time de futebol de
Benetti, cuja sede ficava na Quintino Bocaiúva. “O time foi campeão, venceu um
time da várzea. Agora, quase todos os que estão na foto morreram”, comenta
Benetti. “Morei em Seara por um ano, com 19 saí e fui para o exército no Rio de
Janeiro. Morei cinco anos em
São Paulo e depois vim para Chapecó, já que meu pai tinha
comprado este prédio”, conta objetivo a sua história, entre um cliente e outro.
Domingos não queria saber de ficar ali. Afinal, não havia
nem rua naquela época nos arredores do prédio. Mesmo assim, montou a venda e
ali permanece, há 51 anos. Hoje, percebe a mudança. “A cidade cresceu demais.
Você vai na avenida e não encontra mais nenhum dos antigos. Estão todos no
cemitério. Ficaram os filhos, que vendem os terrenos, botam fora o que os pais
conseguiram depois de uma vida toda de trabalho.”
Logo, outro frequentador assíduo aparece. Nicola Lunisa, 78
anos, tinha nas redondezas um depósito de bebidas. O aposentado comenta que o
dia está especialmente movimentado. De quando em quando, os amigos tentam
interagir com quem passa, com pressa, pela esquina da antiga venda. Alguns
param, fazem brincadeiras, compram alguma coisa. Outros não têm tempo para
perceber a história que mora na venda da esquina, que viu crescer em seu
entorno, antes empoeirado pelas estradas de chão, a Capital do Oeste de Santa
Catarina.