quinta-feira, 14 de março de 2013

A antiga venda da esquina

Entre a Rui Barbosa e a Marechal Floriano Peixoto, a venda permanece, há 51 anos, colecionando histórias

Fabiane De Carli Tedesco


O cheiro de café moído na hora convida quem passa para entrar. A antiga venda da esquina recebe todos os dias, há mais de cinco décadas, visitantes desejosos por uma boa conversa. Domingos Albino Benetti, 76 anos, toma conta do lugar desde o ano de 1962. “É vida”, comenta o homem de poucas palavras, pelo menos quando se trata de falar com a repórter.
Entre a Rui Barbosa e a Marechal Floriano Peixoto, está a venda que Pedro Borsatto, 83 anos, frequenta todos os dias. Ele é o dono de um edifício muito famoso na cidade, o Edifício Borsatto, localizado na Barão do Rio Branco. Com 21 andares, o Borsatto é conhecido por ser um prédio de estudantes. Borsatto foi açougueiro e o seu estabelecimento era próximo da venda de Benetti. “Eu venho aqui para ajudar ele a lidar com os bandidos, passar as horas, botar a conversa em dia.”
Na parede da venda, uma foto de 1963 do time de futebol de Benetti, cuja sede ficava na Quintino Bocaiúva. “O time foi campeão, venceu um time da várzea. Agora, quase todos os que estão na foto morreram”, comenta Benetti. “Morei em Seara por um ano, com 19 saí e fui para o exército no Rio de Janeiro. Morei cinco anos em São Paulo e depois vim para Chapecó, já que meu pai tinha comprado este prédio”, conta objetivo a sua história, entre um cliente e outro.
Domingos não queria saber de ficar ali. Afinal, não havia nem rua naquela época nos arredores do prédio. Mesmo assim, montou a venda e ali permanece, há 51 anos. Hoje, percebe a mudança. “A cidade cresceu demais. Você vai na avenida e não encontra mais nenhum dos antigos. Estão todos no cemitério. Ficaram os filhos, que vendem os terrenos, botam fora o que os pais conseguiram depois de uma vida toda de trabalho.”
Logo, outro frequentador assíduo aparece. Nicola Lunisa, 78 anos, tinha nas redondezas um depósito de bebidas. O aposentado comenta que o dia está especialmente movimentado. De quando em quando, os amigos tentam interagir com quem passa, com pressa, pela esquina da antiga venda. Alguns param, fazem brincadeiras, compram alguma coisa. Outros não têm tempo para perceber a história que mora na venda da esquina, que viu crescer em seu entorno, antes empoeirado pelas estradas de chão, a Capital do Oeste de Santa Catarina.