Por Fabiane De Carli Tedesco
A magia do circo não está apenas debaixo da lona, mas também
no museu. Isso porque iniciou recentemente a exposição "A Imagem e a
Relação com a Sociedade – O Mundo Mágico do Circo", no Espaço Comunidade
do Museu de História e Arte de Chapecó (MHAC). Iniciativa da Secretaria de
Cultura, por meio da Gerência de Patrimônio Histórico e Memória, a mostra
permanece até o dia 28 de março, um dia depois do Dia do Circo.
A exposição surgiu de um vídeo-documentário de 15 minutos,
gravado na bitola VHS em diversos municípios de Santa Catarina, e apresenta a
vida do circo mambembe no Estado. Com argumento e roteiro de Carmem Fossari, do
Departamento Cultural da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o
trabalho conquistou os prêmios de Melhor Documentário e Melhor Direção no I
Festival Nacional de Vídeo de Gravatal (SC).
A mostra "O Mundo Mágico do Circo" reúne também os
trabalhos do fotógrafo Marcio Henrique Martins, expostos em 10 banners com
imagens cotidianas de um circo mambembe. O horário de visitação é das 8h30min
às 11h15min e das 14h às 17h, de segunda a sexta-feira.
Vida de circo
Ele nasceu no circo e faz parte da única família circense de
Chapecó. José Clóvis de Almeida, ou Palhaço Carequinha, comanda a Companhia de
Circo Roialy Show, além de ser coordenador da Escola de Circo da Kirka - o Som
das Árvores. Apresenta o seu trabalho em escolas e eventos da prefeitura, dá
aulas para crianças interessadas em aprender números do circo e percorre
diversos lugares com a companhia levando a magia circense.
São 36 alunos que absorvem na Kirka a sabedoria de
Carequinha, que há três anos iniciou as aulas na organização. O ensaio da
família começa todos os dias às 6h e vai até 8h. Depois, é a vez dos alunos
ensaiarem na Kirka, onde Carequinha e a família moram. "Tem que ser cedo,
porque de manhãzinha a mente está limpa", explica.
A vida é boa no circo, mas, às vezes tem o seu lado tirano.
"Quando estamos fazendo amizade, temos que ir embora", conta. Em
novembro de 1991, Carequinha sentiu ainda mais a tirania do riso. Após um
acidente de carro, sua mãe faleceu. Carequinha teve que subir no palco mesmo
assim, já que o show tem que continuar. "O acidente foi em União da
Vitória (PR). Minha mãe morreu no circo. Eu subi no palco mesmo triste,
chorando, mas foi uma das poucas vezes que estive assim", comenta o
palhaço, sempre alegre e otimista.
Aos 46 anos, ele já é avô. Uma de suas netas, Mirelle, se
prepara para entrar no circo, assim que completar quatro anos. Ela fará parte
da quarta geração no mundo mágico do circo, a exemplo de seu primo, que aos
cinco anos já é palhaço. A família Almeida colocou os pés neste mundo mágico em
um tempo em que o circo era a maior novidade onde quer que chegasse. "Era
uma coisa de outro mundo", resume. Os pais aprenderam o que ensinaram para
Carequinha com o dono do Circo Bolinha. Assim, criaram o Circo di Monaco, em um
terreno do Bairro Bela Vista, em Chapecó.
Próprio para toda a família, o circo, segundo Carequinha -
antigamente conhecido como Palhaço Pirilampo -, é a diversão mais antiga do
mundo. Os números são passados de pai para filho, mas sempre inovando nos
truques, para não caírem na mesmice. Afinal, uma das poucas coisas rotineiras
na vida de circo é a viagem. E quem disse que Carequinha aguentou a vida pacata
de um trabalhador tradicional? Uma vez, em Porto Alegre (PR), trabalhou em uma
gráfica, formalmente, cumprindo horário e batendo ponto. Resultado: oito meses
depois, ele já dava adeus à vida de operário padrão.
Clóvis (ou Carequinha) não quer nem pensar em abandonar a
vida mambembe." A vida no circo é muito boa. A gente trabalha se
divertindo. A maior alegria do palhaço é ver a plateia rindo. Não troco a vida
no circo por nada neste mundo."