segunda-feira, 18 de março de 2013

Sessenta segundos de emoção

O sinal fica vermelho: hora de Romarinho mostrar todo o seu dom para driblar as dificuldades

Fabiane De Carli Tedesco


Romarinho pode ser visto facilmente entre a São Pedro e a Getúlio Vargas, principalmente nos finais de tarde. Vestido de amarelo, com uma bola de futebol, Romarinho ganha a vida como artista de rua. O seu palco é o asfalto. Quando o sinal fica vermelho, Romarinho começa o seu show de 60 segundos. Quando o sinal fica verde, é hora de se preparar para a próxima apresentação.
David Pires, mais conhecido como Romarinho, tem 32 anos e trabalha nas ruas há sete. Ele nasceu na cidade paranaense de Guaraniaçu e viveu a maior parte do tempo em Blumenau. Mas a casa de Romarinho é mesmo o mundo. Depois que um amigo falou da sua habilidade com a bola, Romarinho passou a apostar mais em si mesmo. Foi assim que partiu para a estrada.
Ele jogava futebol de salão pelo Malwee e também participou do Jogo das Estrelas, ajudando Santa Catarina no período das grandes enchentes. Amigo de Falcão e Neymar, como conta, Romarinho trabalha 12 horas por dia. "Não tenho renda fixa e muitas vezes dependo de como está o tempo para trabalhar." Chuva e vento forte impossibilitam o show de Romarinho, que também se machuca por conta do número, um tanto arriscado. Uma vez, em Jaraguá do Sul (SC), estava no semáforo no momento da uma fuga. "O bandido estava fugindo da polícia e eu me joguei para o lado para o carro não me atingir."
O que ganha é transformado em comida, diárias e viagens. Há pouco tempo, ele deu adeus às diárias de hotel, já que alugou um quarto na pensão de Dona Sula. A sua forma de vida é respeitada em Chapecó. "Não tenho do que reclamar do povo chapecoense. As pessoas são simpáticas, o que não acontece em todos os lugares."
Obviamente, em algumas ocasiões, sente o preconceito. "É importante que as pessoas entendam que este é o meu trabalho e tenho contas para pagar, como todo mundo." E o cansaço às vezes chega. "Só eu sei o que é cansaço. O cansaço que sinto é destruidor." O artista deixa claro que não tem vícios, ao contrário do que muitos possam pensar. Nem bebida, nem cigarro, nem outras drogas. "Se usasse algo, não iria aguentar fazer o que faço."
Romarinho ganhou o apelido de um de seus técnicos que achou o estilo dele parecido com o do craque. Outra semelhança é a altura: os dois são baixinhos. O baixinho dos semáforos, que dribla as dificuldades com o melhor jeito brasileiro, ou seja, com bom humor, levou embaixadinhas e malabarismos para diversos estados do Brasil. Também esteve na Argentina, Chile e Paraguai. Agora já planeja uma viagem para a Bolívia e, no inverno, pretende estar no Nordeste brasileiro, para fugir do frio.
Ele ainda não encontrou o seu momento de parar e sente muita satisfação em trabalhar como artista de rua. "Ganhei o dom e gosto do que faço. A melhor coisa é ver a alegria do povo que  reconhece a minha habilidade. Mas, com muita luta, se Deus quiser, pretendo ser empresário, ter um salão de beleza ou um restaurante." De quando em quando, a saudade da família marca presença. "Saudade tem, mas a gente leva", revela, lembrando que não vê o pai há seis anos.
Enquanto Romarinho tem o mundo como casa, ele faz toda a diferença. Orgulhoso, já avisa a plateia que está famoso, pois vai aparecer no jornal. Embora a pele conheça e estampe o lado mais nocivo do sol, Romarinho não deixa o sorriso apagar. E mesmo quando leva um "não" como resposta, não faz cara feia. Ele sabe bem o significado de um ditado popular que diz: "um dia é da caça, outro do caçador".