Fabiane De Carli Tedesco
Romarinho pode ser visto facilmente entre a São Pedro e a
Getúlio Vargas, principalmente nos finais de tarde. Vestido de amarelo, com uma
bola de futebol, Romarinho ganha a vida como artista de rua. O seu palco é o
asfalto. Quando o sinal fica vermelho, Romarinho começa o seu show de 60
segundos. Quando o sinal fica verde, é hora de se preparar para a próxima
apresentação.
David Pires, mais conhecido como Romarinho, tem 32 anos e
trabalha nas ruas há sete. Ele nasceu na cidade paranaense de Guaraniaçu e viveu
a maior parte do tempo em
Blumenau. Mas a casa de Romarinho é mesmo o mundo. Depois que
um amigo falou da sua habilidade com a bola, Romarinho passou a apostar mais em
si mesmo. Foi assim que partiu para a estrada.
Ele jogava futebol de salão pelo Malwee e também participou
do Jogo das Estrelas, ajudando Santa Catarina no período das grandes enchentes.
Amigo de Falcão e Neymar, como conta, Romarinho trabalha 12 horas por dia.
"Não tenho renda fixa e muitas vezes dependo de como está o tempo para
trabalhar." Chuva e vento forte impossibilitam o show de Romarinho, que
também se machuca por conta do número, um tanto arriscado. Uma vez, em Jaraguá
do Sul (SC), estava no semáforo no momento da uma fuga. "O bandido estava
fugindo da polícia e eu me joguei para o lado para o carro não me
atingir."
O que ganha é transformado em comida, diárias e viagens. Há
pouco tempo, ele deu adeus às diárias de hotel, já que alugou um quarto na
pensão de Dona Sula. A sua forma de vida é respeitada em Chapecó. "Não
tenho do que reclamar do povo chapecoense. As pessoas são simpáticas, o que não
acontece em todos os lugares."
Obviamente, em algumas ocasiões, sente o preconceito.
"É importante que as pessoas entendam que este é o meu trabalho e tenho
contas para pagar, como todo mundo." E o cansaço às vezes chega. "Só
eu sei o que é cansaço. O cansaço que sinto é destruidor." O artista deixa
claro que não tem vícios, ao contrário do que muitos possam pensar. Nem bebida,
nem cigarro, nem outras drogas. "Se usasse algo, não iria aguentar fazer o
que faço."
Romarinho ganhou o apelido de um de seus técnicos que achou
o estilo dele parecido com o do craque. Outra semelhança é a altura: os dois
são baixinhos. O baixinho dos semáforos, que dribla as dificuldades com o
melhor jeito brasileiro, ou seja, com bom humor, levou embaixadinhas e
malabarismos para diversos estados do Brasil. Também esteve na Argentina, Chile
e Paraguai. Agora já planeja uma viagem para a Bolívia e, no inverno, pretende
estar no Nordeste brasileiro, para fugir do frio.
Ele ainda não encontrou o seu momento de parar e sente muita
satisfação em trabalhar como artista de rua. "Ganhei o dom e gosto do que
faço. A melhor coisa é ver a alegria do povo que reconhece a minha habilidade. Mas, com muita
luta, se Deus quiser, pretendo ser empresário, ter um salão de beleza ou um
restaurante." De quando em quando, a saudade da família marca presença.
"Saudade tem, mas a gente leva", revela, lembrando que não vê o pai
há seis anos.
Enquanto Romarinho tem o mundo como casa, ele faz toda a
diferença. Orgulhoso, já avisa a plateia que está famoso, pois vai aparecer no
jornal. Embora a pele conheça e estampe o lado mais nocivo do sol, Romarinho
não deixa o sorriso apagar. E mesmo quando leva um "não" como
resposta, não faz cara feia. Ele sabe bem o significado de um ditado popular
que diz: "um dia é da caça, outro do caçador".