quinta-feira, 28 de março de 2013

El Toron lança vídeo de divulgação

"Não gosto da vida em banho-maria, gosto de fogo, pimenta, alho, ervas, por um triz não sou uma bruxa." (Martha Medeiros)

Por Fabiane De Carli Tedesco


Pimenta. Esta é a matéria-prima do El Toron Produtos Artesanais, uma ideia do casal Manu Benvenutti e Thiago Scussiato Merlo que ganhou o mundo real. "A pimenta sempre foi um item presente na cozinha. Desde muito cedo observava o meu avô fazer conservas. Com o passar do tempo, comecei a cozinhar e a fazer conservas também. No princípio, elas eram dadas como presente aos amigos e conhecidos", conta Merlo.
O aprimoramento das receitas e as novas criações fizeram com os molhos começassem a ter uma demanda maior. "Nesta fase, entrou uma designer em minha vida (Manu). A partir daí foi um caminho sem volta. Ela ficou empolgada com a história e os estudos da marca começaram, chegando ao resultado atual."
A designer procurou passar, por meio do símbolo criado, as características que Merlo queria e elementos que ele observava em outras marcas de molho de pimenta. "A marca tinha que representá-lo, pois os molhos de pimenta são produzidos de uma maneira bem pessoal. As cores e as formas representam o México, com as suas touradas e a sua 'Lucha Libre'. Foi feita uma pesquisa dos dois temas. Com as referências, consegui definir também a tipografia: letras bastante utilizadas em cartazes de festas mexicanas", revela Manu.
Como Touro é o signo do namorado, ela lembrou deste fato na hora de definir um símbolo. "Queríamos que fosse marcante, forte, que chamasse a atenção, tivesse até um lado bem-humorado, alegre e com um toque 'caseiro'. O nome surgiu também da observação e do estudo das referências. Foi em um insight que eu visualizei o El Toron e um touro como símbolo. Só precisei lapidar a ideia com os outros elementos."
Após um tempo de observação no final do ano passado, no início do ano de 2013 surgia definitivamente o El Toron. "Fiz uma surpresa e apresentei a proposta formalmente. Expliquei todo o conceito e, de primeira, definimos que esta seria a marca do El Toron. Depois disso, fomos pensando em embalagens, em rótulo e em aplicações. Criamos a fan page e estamos trabalhando bastante agora, tentando manter as pessoas atualizadas e procurando conteúdo."
Segundo a designer, a marca El Toron Produtos Artesanais surge como um selo para produtos feitos artesanalmente e com produção limitada. A intenção é fabricar produtos naturais, sem adição de conservantes, corantes ou qualquer tipo de produtos químicos. "Começamos com molhos de pimenta e em breve estarão à venda os licores de limão siciliano feitos pelo Sr. Fermino Merlo."
No dia 27 de março, El Toron lançou um vídeo na internet. Nele, o movimento da elaboração dos molhos é representado com a magia própria da arte. Produzido pela Sombrero Filmes, o vídeo está no endereço: http://vimeo.com/62718052

Carpindo um Lote e El Toron

El Toron é considerado pelos seus criadores como um movimento, assim como o Carpindo um Lote, que ganhou reportagem de capa recentemente no Jornal Sul Brasil. Para o casal, os dois movimentos andam lado a lado. "A harmonia e o envolvimento entre os integrantes acabam resultando em uma fábrica de ideias. Alguns molhos já saíram da panela e foram direto para a horta para degustação." Dessa forma, puderam colher opiniões e decidir o que seria produzido.

Molhos oferecidos

1- Doce com Alho;
2- Doce com Gengibre;
3- Tomates Picantes;
4- Leite de Coco.

Onde comprar

As encomendas podem ser feitas pelo email: eltoronprodutosartesanais@gmail.com ou pela página do Facebook: https://www.facebook.com/pages/El-Toron-Produtos-Artesanais/140619832763049
O prazo de entrega é de 15 dias.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Recorte de jornal


Vídeo de divulgação do El Toron


Pelo hábito de consumir cultura

Este é um dos propósitos da ACATE, que hoje realiza mais um Teatro em Debate

Por Fabiane De Carli Tedesco


Hoje, Dia Internacional do Teatro e do Circo, acontece o Teatro em Debate, evento que teve início no ano de 2002, cuja intenção é discutir o tema e elaborar documentos voltados à conquista de espaço do teatro em Chapecó. Realizado pela Associação Chapecoense dos Artistas e Grupos de Teatro (ACATE), o Teatro em Debate acontece a partir das 19h30, na Sala Eli Camargo, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo De Nes.
Com o tema “Situação atual do teatro em Chapecó: atualidade, desafios e perspectivas”, o debate é uma forma de lembrar as autoridades que o teatro ainda está longe de um cenário ideal. “Queremos unir mais forças para continuarmos buscando o crescimento. Não somente do teatro, mas das artes em geral. Sabemos que quando conquistamos um direito, ele não beneficia somente o teatro: a conquista se multiplica para outras áreas artísticas”, explica o presidente da ACATE, Tarcisio Brighenti. Ele diz que este ano a ACATE conta com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura.
Conforme ele, o evento sempre promove uma discussão sobre a situação do teatro em Chapecó, ampliando as ações. Uma das ações de grande importância para a associação é o Festival de Teatro de Chapecó – sonhado durante muitos e muitos anos. Em 2009, a ACATE recebeu apoio da então Fundação Cultural de Chapecó, hoje Secretaria Municipal de Cultura. “O Festival de Teatro é uma ocasião de aprendizado, de troca”, lembra o presidente.
Entretanto, mais precisa ser feito em termos de fomento do teatro em Chapecó. “Temos dificuldade na circulação dos trabalhos, na montagem dos espetáculos e na formação da plateia. Não há um público cativo em Chapecó. Queremos implantar o hábito de assistir peças de teatro na cidade, fazer com que as pessoas, assim como consomem tantos bens materiais, consumam também a cultura.”
Fazem parte da ACATE cinco companhias teatrais. Todas elas sentem falta de um teatro, um lugar próprio para as apresentações. O Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo De Nes, por exemplo, tem uma estrutura que não condiz com a estrutura dos grupos, já que o teatro possui mil lugares. No Serviço Social do Comércio (Sesc), embora não seja ideal, o espaço é mais adequado às companhias. “Porém, a nossa luta maior é a conquista de um espaço específico em Chapecó, para ensaios, apresentações, reuniões e oficinas.”

O Teatro em Chapecó

Muitos grupos teatrais iniciaram na década de 1980 em Chapecó. Eles nasceram dentro de grandes indústrias, como a Sadia, a Aurora, a Alfa e a Chapecó Alimentos. Mas, na década de 1950, grupos já passavam pela cidade, deixando boas lembranças na memória dos antigos. Além disso, o teatro de igreja sempre existiu na Capital do Oeste, especialmente nas décadas de 1940 e 1950.

Sobre o chocolate

O cheiro de chocolate invade o ar, em um cantinho adocicado da Nereu Ramos. Uma loja de doces artesanais que aposta no chocolate em todas as épocas do ano, na personalização e no toque familiar. Vovó Mônica fazia guloseimas para a família, até que decidiu se tornar uma doceira empresária. Para as datas especiais como a Páscoa, faz doces temáticos, cheios de sabor e imaginação. Nas panificadoras, a Páscoa está em biscoitos e colombas de encher os olhos. As delícias dispostas nesses ambientes serviram de pauta para a reportagem "O lado artesanal da Páscoa", que dá sabor à edição de hoje do Jornal Sul Brasil. São bombons, trufas e ovos que nos lembram a infância, no tempo em que esperávamos o Coelho da Páscoa ansiosamente. Uma época de boas lembranças para muitos, sem dúvidas. O chocolate é acolhedor, difícil de não ser apreciado pelas pessoas. Ao leite, amargo ou meio amargo, ele acompanha datas especiais e aproxima as pessoas. Em cada barra, mora um prazer absoluto, desejado em todos os dias do ano.

O lado artesanal da Páscoa

Loja de doces artesanais aposta no chocolate como presente em todas as épocas do ano

Por Fabiane De Carli Tedesco


A Páscoa está chegando e com ela as delícias artesanais que fazem da data ainda mais doce. Nas panificadoras, é hora de botar a mão na massa, já que os pedidos aumentam neste período que antecede a Páscoa. Em uma panificadora da cidade, biscoitos e colombas pascais estão sendo produzidos desde o início do mês de fevereiro, mas é agora que a procura aumenta, segundo a gerente Maribel Benin.
Para ela, as guloseimas de Páscoa são ótimas para presentear nesta data, até porque são super decoradas, levando um toque artesanal. Os biscoitos, por exemplo, feitos com manteiga e nata, são decorados um a um, recebendo pintura manual.
Os doces artesanais também são vistos como uma boa pedida pelas proprietárias de um cantinho adocicado da Nereu Ramos. Tanto que perceberam a prosperidade financeira deste nicho. Izadora Reche, neta de Mônica – proprietária do espaço, lembra que a avó fazia os doces artesanais para a família antes de se tornar uma doceira empresária, ao lado da filha Claudia. “Como a gente sabia fazer os chocolates artesanais e não há quem não goste de chocolate, achamos que este seria um bom negócio. Estávamos certas”, comenta Izadora.
O negócio familiar tem tudo a ver com a Páscoa, já que oferece bombons, trufas e ovos, podendo ser personalizados. A loja, com fabricação própria, abriu as portas há um mês e meio. As moças da Família Reche compram chocolates de marcas famosas e os transformam em delícias artesanais muito bem recebidas pelos chapecoenses. Elas montam cestas, fazem ovos trufados e mesclam chocolates, ao gosto dos clientes.
Em datas especiais como a Páscoa, o Dia das Mães, o Dia dos Namorados e o Natal, fazem um trabalho temático. “O chocolate artesanal é mais interessante. Bem mais do que as barras-padrão”, opina Izadora. Mas ela acredita que o chocolate faz parte de um processo contínuo, cuja produção deve acontecer em todos os períodos do ano, ou seja, ele não tem época específica: todas as épocas são próprias para o chocolate. “O chocolate é um ótimo presente, não somente nas datas em que ele é símbolo”, finaliza.

"O Mundo Mágico do Circo" em visitação no MHAC

Mostra apresenta a vida do circo mambembe em Santa Catarina

Por Fabiane De Carli Tedesco


A magia do circo não está apenas debaixo da lona, mas também no museu. Isso porque iniciou recentemente a exposição "A Imagem e a Relação com a Sociedade – O Mundo Mágico do Circo", no Espaço Comunidade do Museu de História e Arte de Chapecó (MHAC). Iniciativa da Secretaria de Cultura, por meio da Gerência de Patrimônio Histórico e Memória, a mostra permanece até o dia 28 de março, um dia depois do Dia do Circo.
A exposição surgiu de um vídeo-documentário de 15 minutos, gravado na bitola VHS em diversos municípios de Santa Catarina, e apresenta a vida do circo mambembe no Estado. Com argumento e roteiro de Carmem Fossari, do Departamento Cultural da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o trabalho conquistou os prêmios de Melhor Documentário e Melhor Direção no I Festival Nacional de Vídeo de Gravatal (SC).
A mostra "O Mundo Mágico do Circo" reúne também os trabalhos do fotógrafo Marcio Henrique Martins, expostos em 10 banners com imagens cotidianas de um circo mambembe. O horário de visitação é das 8h30min às 11h15min e das 14h às 17h, de segunda a sexta-feira.

Vida de circo

Ele nasceu no circo e faz parte da única família circense de Chapecó. José Clóvis de Almeida, ou Palhaço Carequinha, comanda a Companhia de Circo Roialy Show, além de ser coordenador da Escola de Circo da Kirka - o Som das Árvores. Apresenta o seu trabalho em escolas e eventos da prefeitura, dá aulas para crianças interessadas em aprender números do circo e percorre diversos lugares com a companhia levando a magia circense.
São 36 alunos que absorvem na Kirka a sabedoria de Carequinha, que há três anos iniciou as aulas na organização. O ensaio da família começa todos os dias às 6h e vai até 8h. Depois, é a vez dos alunos ensaiarem na Kirka, onde Carequinha e a família moram. "Tem que ser cedo, porque de manhãzinha a mente está limpa", explica.
A vida é boa no circo, mas, às vezes tem o seu lado tirano. "Quando estamos fazendo amizade, temos que ir embora", conta. Em novembro de 1991, Carequinha sentiu ainda mais a tirania do riso. Após um acidente de carro, sua mãe faleceu. Carequinha teve que subir no palco mesmo assim, já que o show tem que continuar. "O acidente foi em União da Vitória (PR). Minha mãe morreu no circo. Eu subi no palco mesmo triste, chorando, mas foi uma das poucas vezes que estive assim", comenta o palhaço, sempre alegre e otimista.
Aos 46 anos, ele já é avô. Uma de suas netas, Mirelle, se prepara para entrar no circo, assim que completar quatro anos. Ela fará parte da quarta geração no mundo mágico do circo, a exemplo de seu primo, que aos cinco anos já é palhaço. A família Almeida colocou os pés neste mundo mágico em um tempo em que o circo era a maior novidade onde quer que chegasse. "Era uma coisa de outro mundo", resume. Os pais aprenderam o que ensinaram para Carequinha com o dono do Circo Bolinha. Assim, criaram o Circo di Monaco, em um terreno do Bairro Bela Vista, em Chapecó.
Próprio para toda a família, o circo, segundo Carequinha - antigamente conhecido como Palhaço Pirilampo -, é a diversão mais antiga do mundo. Os números são passados de pai para filho, mas sempre inovando nos truques, para não caírem na mesmice. Afinal, uma das poucas coisas rotineiras na vida de circo é a viagem. E quem disse que Carequinha aguentou a vida pacata de um trabalhador tradicional? Uma vez, em Porto Alegre (PR), trabalhou em uma gráfica, formalmente, cumprindo horário e batendo ponto. Resultado: oito meses depois, ele já dava adeus à vida de operário padrão.
Clóvis (ou Carequinha) não quer nem pensar em abandonar a vida mambembe." A vida no circo é muito boa. A gente trabalha se divertindo. A maior alegria do palhaço é ver a plateia rindo. Não troco a vida no circo por nada neste mundo." 

sexta-feira, 22 de março de 2013

A relíquia da Família Basso

O Ford Coupe da década de 1940 é um dos carros que estão em exposição no Parque Rovilho Bortoluzzi, em Xanxerê

Por Fabiane De Carli Tedesco


O ronco do motor já dizia tudo: o carro que saía da garagem esbanja potência. Logo, a relíquia da Família Basso ganhava a luz do sol. O Ford Coupe da década de 1940, laranja de época, conhecido como barata, é o xodó do dentista Ricardo Basso. O apreço é compartilhado por toda a família, principalmente pelos filhos Lucas e Brenda.
Há sete anos, Ricardo comprou o Ford. Ele foi todo reformado e, o que antes era uma lata velha, como conta Ricardo, hoje é uma joia rara que os filhos aprenderam a dar valor. Ricardo adquiriu o gosto pelos carros com o seu avô, Amélio Betollo. "Ele foi a primeira pessoa a comprar um automóvel na cidade de Erval Grande (RS), na década de 1930, 1940."
O apaixonado acredita que o desejo de consertar carros antigos se expandiu na década de 2000, por conta dos programas transmitidos pela TV a cabo. Uma cultura norte-americana, absorvida pelo Brasil, que reúne admiradores de todos os lugares. A exemplo do que acontece neste final de semana em Xanxerê: a quinta edição do Encontro de Carros Antigos, Caminhões, Bicicletas e Antiguidades do Veteran Car Clube daquela cidade. Ricardo já confirmou que vai levar o seu Ford.
Os carros antigos demandam investimento e, quando são reformados, não são comumente vistos pelas ruas sem que haja uma intenção maior. E são nesses eventos que carros como o Ford Coupe dão o ar da graça. A sensação de andar em um é inexplicável, segundo Ricardo. "Tem que entrar e sentir, é impossível transmitir a sensação. É um prazer enorme rodar com um carro da década de 1940."
Quando Ricardo roda com ele, o Ford para o trânsito e quase causa acidentes. O carro sempre é fotografado, as pessoas querem saber mais sobre ele e até fazem propostas. Porém, Ricardo não quer nem saber de se desfazer da relíquia. "Já disse para os meus filhos que, se um dia precisarem vender alguma coisa, não vendam o carro."

O encontro

A quinta edição do Encontro de Carros Antigos, Caminhões, Bicicletas e Antiguidades do Veteran Car Clube de Xanxerê acontece nos dias 23 e 24 de março, no Parque de Exposições Rovilho Bortoluzzi. Há uma área coberta para 180 veículos, restaurante, mercado de pulgas, área para acampamento, transporte gratuito aos expositores para o Centro, premiações e entrega de certificados. Entre as atrações, um Cadillac conversível que promete arrancar suspiros do público.
Organizador do evento, Jair Tacca Júnior comenta que fazem parte do encontro clubes de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e da Argentina. Com entrada gratuita ao público, o encontro tem expectativa de reunir um número superior a cinco mil pessoas e mais de 300 veículos, a exemplo do evento anterior.
Jair aprendeu com o pai a gostar de carros. Seu pai tinha um Ford Maverick, que o inspirou a seguir pelo caminho dos carros antigos. "Desde moleque tenho esta paixão e até hoje sou apaixonado pelos carros antigos."

quarta-feira, 20 de março de 2013

Cores, formas e sons de um ofício antigo

Há 23 anos, Enólia Maria Pereira usa o vidro como matéria-prima de sua arte

Fabiane De Carli Tedesco


Eles constroem sonhos com as próprias mãos, com a cabeça e com o coração. Artesãos (ou poderiam ser chamados de artistas?) fazem parte da história da humanidade há muitos séculos, sendo que os primeiros surgiram no período neolítico (6.000 a.C), na época em que o homem aprendeu a polir a pedra, a fabricar a cerâmica e a tecer fibras animais e vegetais. Ontem, dia 19 de março, foi dia de comemoração para os artesãos, já que era o Dia Nacional do Artesão.
Na Rua Barão do Rio Branco, encontramos uma pessoa que vive do artesanato há 23 anos: Enólia Maria Pereira. Ali, é o seu ateliê e a sua galeria. A matéria-prima escolhida, o vidro, é moldada por Enólia com criatividade. Suas peças, de formas inusitadas e cores vibrantes, são muito bem recebidas não só aqui, como em diversas outras cidades brasileiras.
A arte de dona Enólia é decorativa e também utilitária. Cada peça possui um significado. A escolha do vidro se deu porque em Chapecó, na época em que Enólia começou, ainda não existia ninguém que trabalhasse com o material. “Quis trazer esta ideia para Chapecó para enriquecer as obras dos arquitetos”, conta. Formada em desenho artístico e em decoração de interiores, Enólia dá sentido às portas e aos espelhos, aderindo aos mais diferentes estilos, do clássico ao moderno.
Nascida em Guaporé (RS), Enólia está em Chapecó há mais de 40 anos. “Já me sinto chapecoense. Sou chapecoense de coração e de alma.” Ela já criou muitas técnicas e diz que cada peça é única, já que procura não fazer o mesmo sempre. Se dedica à milenar técnica do jato de areia e à técnica da fusão de vidros, utilizando um forno de alta temperatura. É com o calor que a arte de Enólia ganha forma e cor.
Dos vidros que sobram das vidraçarias, nascem peças cheias de personalidade e de misticismo, a exemplo das mandalas, carregadas de simbologias, como a flor de lótus, considerada sagrada no oriente. Algumas levam o Olho de Órus, outras o espetro solar. Experiências religiosas e de vida, encontradas nos objetos que, quando se chocam, produzem sons que se unem às cores e às formas, em uma harmonia que perpetua o sentido da arte.

“A arte nos traz coisas belas, fascinantes, atordoantes, maravilhosas. É para isso que existe.” (Ferreira Gullar)

Dias bons

Na revista

segunda-feira, 18 de março de 2013

Se carrega a minha semente há de ser o meu mundo

Em um domingo nublado, em um lado da cidade, alguns se alimentavam da rapidez das grandes corporações; do outro lado, outros cultivavam pacientemente uma horta regada de utopias

Fabiane De Carli Tedesco


Uma horta nasce das utopias, dos achismos caboclos e das pesquisas em filmes e livros, como o Manual do Arquiteto Descalço, que deixou de ocupar a estante para ocupar a cabeça de 15 pessoas que compõem o Carpindo um Lote, projeto de agricultura urbana surgido em janeiro de 2013. Entre elas, o arquiteto Thiago Scussiato Merlo, filho de agricultores que trabalhou na terra até os 11 anos. "Plantei muito canteiro e este é o meu retorno", revela. "Volto às raízes 22 anos depois. Volto a brincar no mato, a brincar na terra."
O projeto foge da instrução programada do vídeo game, lembrando como é bom mexer na terra, tomar banho de chuva e sair do apartamento, como conta um dos membros do Carpindo um Lote, o tatuador Adnilson Rafael Telles. É no quintal de casa, que a horta ganhou vida. Dar valor ao que se faz com as próprias mãos e aos temperos colhidos na hora é o que move outro membro do grupo, o publicitário Sérgio Franco, que já ensina o filho Lucas Franco sobre o valor da terra. Ao lado dos amigos, Sérgio se lança em um esforço vegetariano, já que, nas palavras de Adnilson, a cada escolha pela carne, um prego a mais no caixão.
Com as mãos na terra surgem descobertas, verdadeiros presentes de Deus. Descobertas e presentes que não estão nas prateleiras dos supermercados, mas que são ricos em vitaminas e podem ser transformados em chás, receitas e remédios naturais, como lembra a professora Fernanda Schnorr Grando. Entre os encontros dos amigos na horta, surgiu uma ideia: El Toron, marca de molho de pimenta criada pela designer Manu Benvenutti, que também se rendeu aos prazeres da horta.
O grupo de amigos, formado por profissionais de áreas distintas, entende o Carpindo um Lote como "muito mais do que uma ação de fazer canteiros, plantar e colher", como diz Juliane Franco, formada em matemática, física e psicologia transpessoal. "É um movimento com ideologia 'anarco-libertária', que tem relação com saúde, sustentabilidade, autonomia, resistência às corporações e até espiritualidade."
Para ela, as mudanças só acontecem a partir da nossa vontade aliada à ação. "Como um grupo de amigos que gosta de se reunir para conversar, cozinhar e comer, sempre nos preocupamos com a qualidade do que consumimos. Estamos nos vendo em um mundo cercado por agrotóxicos e alimentos aditivados e artificiais, sem preocupação nutricional, voltado ao consumo excessivo de tudo e que muitas vezes nos adoecem ao invés de nutrir." Assim, o movimento partiu do desejo de mudança.
"Enquanto ninguém começar, nada acontece e continuaremos sempre nas mãos de multinacionais alimentícias, que se apossaram do que é mais valioso para a humanidade: as sementes. Se todo mundo cultivasse algo no seu quintal ou em um terreno baldio próximo, muita coisa seria diferente. A conexão com a terra faz muito bem, as pessoas se distanciaram disso, muitas já nem se dão conta de qual estação do ano estão. O plantio nos faz observar as fases da lua, como está o clima e o que se come em cada época do ano. Tudo isso nos faz mais saudáveis. E, de 'brinde', se ganha a convivência com os amigos."
Difundir esta ideia na internet pode ser interessante para mostrar para esta geração que há mundo além das grandes corporações. "Queremos mostrar para as pessoas que não é difícil cultivar o que comemos. Aliás, é muito agradável poder colher e colocar o alimento na mesa. Criamos a fan page para documentar os nossos passos, os nossos erros e os nossos acertos. Queremos estimular que outros sigam o nosso exemplo."

"Vá carpir um lote!"

Conheça o Carpindo um Lote <https://www.facebook.com/CarpindoUmLote>, página com ideias sobre agricultura urbana, com tudo para quem quiser iniciar uma horta ou mantê-la. Em bom Catarinês, "vá carpir um lote!"

Sessenta segundos de emoção

O sinal fica vermelho: hora de Romarinho mostrar todo o seu dom para driblar as dificuldades

Fabiane De Carli Tedesco


Romarinho pode ser visto facilmente entre a São Pedro e a Getúlio Vargas, principalmente nos finais de tarde. Vestido de amarelo, com uma bola de futebol, Romarinho ganha a vida como artista de rua. O seu palco é o asfalto. Quando o sinal fica vermelho, Romarinho começa o seu show de 60 segundos. Quando o sinal fica verde, é hora de se preparar para a próxima apresentação.
David Pires, mais conhecido como Romarinho, tem 32 anos e trabalha nas ruas há sete. Ele nasceu na cidade paranaense de Guaraniaçu e viveu a maior parte do tempo em Blumenau. Mas a casa de Romarinho é mesmo o mundo. Depois que um amigo falou da sua habilidade com a bola, Romarinho passou a apostar mais em si mesmo. Foi assim que partiu para a estrada.
Ele jogava futebol de salão pelo Malwee e também participou do Jogo das Estrelas, ajudando Santa Catarina no período das grandes enchentes. Amigo de Falcão e Neymar, como conta, Romarinho trabalha 12 horas por dia. "Não tenho renda fixa e muitas vezes dependo de como está o tempo para trabalhar." Chuva e vento forte impossibilitam o show de Romarinho, que também se machuca por conta do número, um tanto arriscado. Uma vez, em Jaraguá do Sul (SC), estava no semáforo no momento da uma fuga. "O bandido estava fugindo da polícia e eu me joguei para o lado para o carro não me atingir."
O que ganha é transformado em comida, diárias e viagens. Há pouco tempo, ele deu adeus às diárias de hotel, já que alugou um quarto na pensão de Dona Sula. A sua forma de vida é respeitada em Chapecó. "Não tenho do que reclamar do povo chapecoense. As pessoas são simpáticas, o que não acontece em todos os lugares."
Obviamente, em algumas ocasiões, sente o preconceito. "É importante que as pessoas entendam que este é o meu trabalho e tenho contas para pagar, como todo mundo." E o cansaço às vezes chega. "Só eu sei o que é cansaço. O cansaço que sinto é destruidor." O artista deixa claro que não tem vícios, ao contrário do que muitos possam pensar. Nem bebida, nem cigarro, nem outras drogas. "Se usasse algo, não iria aguentar fazer o que faço."
Romarinho ganhou o apelido de um de seus técnicos que achou o estilo dele parecido com o do craque. Outra semelhança é a altura: os dois são baixinhos. O baixinho dos semáforos, que dribla as dificuldades com o melhor jeito brasileiro, ou seja, com bom humor, levou embaixadinhas e malabarismos para diversos estados do Brasil. Também esteve na Argentina, Chile e Paraguai. Agora já planeja uma viagem para a Bolívia e, no inverno, pretende estar no Nordeste brasileiro, para fugir do frio.
Ele ainda não encontrou o seu momento de parar e sente muita satisfação em trabalhar como artista de rua. "Ganhei o dom e gosto do que faço. A melhor coisa é ver a alegria do povo que  reconhece a minha habilidade. Mas, com muita luta, se Deus quiser, pretendo ser empresário, ter um salão de beleza ou um restaurante." De quando em quando, a saudade da família marca presença. "Saudade tem, mas a gente leva", revela, lembrando que não vê o pai há seis anos.
Enquanto Romarinho tem o mundo como casa, ele faz toda a diferença. Orgulhoso, já avisa a plateia que está famoso, pois vai aparecer no jornal. Embora a pele conheça e estampe o lado mais nocivo do sol, Romarinho não deixa o sorriso apagar. E mesmo quando leva um "não" como resposta, não faz cara feia. Ele sabe bem o significado de um ditado popular que diz: "um dia é da caça, outro do caçador".

quinta-feira, 14 de março de 2013

Sobre a arteira

A aposentadoria faz o tempo passar diferente. É tempo de cuidar dos pequenos detalhes, de despertar os talentos antigos, adormecidos. Maria Lucia é aposentada, mas não só isso: é arteira, ou melhor, artesã. No seu cantinho da bagunça, objetos comuns ganham alma. É no seu ateliê que, entre uma cuia e outra de chimarrão e uma música e outra do Neil Diamond, que ela cria, em todas as estações do ano. Maria Lucia hoje tem tempo para escolher o adereço certo da cuia – lilás no último sábado, cor da espiritualidade e da transformação –, para fazer florais, para cuidar da família e da casa. Da cozinha, surgem pratos elaborados cuidadosamente; as plantas já podem receber o carinho que os dias de números não proporcionavam. A casa na Oswaldo Cruz é o lar de filhos, netos e vizinhos. Ali, todos encontram atrativos cheios de significado, como os objetos feitos por Maria Lucia. A decoração ocupa todos os cantos da casa. Em cada objeto, uma alma e horas de dedicação. A casa de uma artesã é sempre mais charmosa e menos impessoal. A casa de uma arteira é sempre mais convidativa do que a vitrine.

Páscoa pede decoração e imaginação

Entre comprar e fazer, Maria Lucia prefere fazer os objetos de decoração para feriados como a Páscoa

Fabiane De Carli Tedesco


É comum encontrarmos casas decoradas para o Natal. Mas, para a Páscoa, não é assim tão comum. Porém, este é um cenário que está mudando, ano a ano. Proprietária de uma papelaria e bazar de Chapecó, Nilva Pádova Nyland comenta que os objetos de decoração que marcam a data foram quase todos vendidos.
Guirlandas e coelhos de pelúcia são os produtos mais procurados. Artigos que variam de R$ 10 a R$ 500, preços que não intimidam os consumidores, dispostos a gastar até R$ 4 mil na decoração. O período apresenta um aumento de 50% nas vendas da loja, ocupando o segundo lugar no ranking dos feriados mais prósperos do ano, perdendo apenas para o Natal.

O cantinho da bagunça de uma arteira

Entretanto, embora as vitrines sejam convidativas, há quem prefira usar as próprias mãos para criar os objetos de decoração. Na Rua Oswaldo Aranha, Bairro Maria Goretti, os feriados são sempre carregados de objetos decorativos feitos artesanalmente pela vizinhança. Quem faz parte do grupo é a aposentada Maria Lucia Bueno.
A atual arteira, como se diz, trabalhou durante 31 anos com dinheiro e números. Agora, aproveita o tempo para criar pequenos objetos de arte em todos os momentos do ano. Para a Páscoa, decorou a casa toda para receber os filhos, os netos e os vizinhos. “Decidi brincar de casinha. Decoro a casa, faço comida e cuido das plantas”, conta.
O artesanato para ela é diversão, passatempo e terapia. Tira inspiração de revistas, coloca Neil Diamond para tocar e começa a criar no seu cantinho da bagunça, onde tudo acontece, o seu ateliê, de onde saem peças delicadas, impecáveis e únicas.
Entre a casa, a família e o artesanato, Maria Lucia ainda não tirou um tempinho para vender o que produz. Sempre exigente, Lucia aprendeu com a mãe a cuidar de cada detalhe, o que a ajudou a captar as técnicas como de bordado e de patwork. Agora, ela já pensa em aprender a fazer objetos de biscuit.
O mundo depois da aposentadoria apresenta infinitas possibilidades. Por isso, não raro vemos pessoas começando, na aposentadoria, atividades completamente diferentes daquelas que garantiram o sustento por tantos anos. É um tempo de maior estabilidade e de desenvolver talentos adormecidos.

Desfrutar do conforto

Contudo, a maioria dos aposentados não pode desfrutar do conforto, que é capaz de abrir as portas para tais atividades. Uma pesquisa recente revela que 56% não estão preparados para ter conforto após a aposentadoria. Neste contexto, Maria Lucia faz parte de um grupo de privilegiados.
Isso acontece porque quase metade das pessoas com mais de 25 anos, o que representa um índice de 48%, em 15 economias do mundo, nunca guardou dinheiro para a aposentadoria. É o que mostra a pesquisa global feita pelo HSBC, parte do estudo “O Futuro da Aposentadoria: Uma Nova Realidade”, o oitavo de uma série elaborada pelo banco, que aposta no planejamento financeiro para que as pessoas possam poupar mais e terem uma aposentadoria mais confortável e proveitosa.

“Porque nenhuma mulher é como aquela da revista”

A publicidade e a propaganda acompanham as diferentes fases da mulher. Ao longo das décadas, muita coisa mudou. Mas, há o que permaneça exatamente igual

Fabiane De Carli Tedesco


As mudanças de comportamento, as revoluções femininas, as velhas e as novas prioridades. Tudo isso pode ser encontrado em anúncios de jornal, revista, rádio, TV ou internet. A publicidade e a propaganda acompanham as incontáveis fases da mulher. E, todas as mulheres, independente do estilo, provavelmente tenham motivos para comemorar o Dia Internacional da Mulher.
Juliane Franco, mãe de dois filhos, formada em matemática, física e psicologia transpessoal, é também empresária. Sócia da HAKA Multicomunicativa, Juliane trabalha com a criatividade, ao lado do esposo Sérgio Franco, publicitário. “Em uma agência, até mesmo o ato de atender o telefone precisa ser criativo”, comenta ela.
Para os dois, a mulher foi e continua sendo isca do consumo. “Da década de 1950 para cá, muita coisa mudou, como o poder aquisitivo da mulher. Se antes ela pedia para o marido, hoje a mulher compra com o próprio dinheiro aquilo que quiser. Mais do que isso: a mulher tem papel fundamental na hora da compra. Entretanto, alguns aspectos continuam iguais, como o fato da mulher ainda ser isca do consumo.”
Embora trabalhe com publicidade e propaganda, o casal é um tanto anti-consumista. Juliane, por exemplo, preza pela consciência no consumo. Quando um cliente tem uma ideia apelativa, os dois tentam convencê-lo de fazer algo diferente. “Temos clientes compatíveis ao nosso estilo de trabalho. Tentamos mostrar que uma empresa pode ser sustentável de outras maneiras”, diz Sérgio.
A esposa lembra de uma antiga revista Ele & Ela, de 1972, que mostrava a pornografia de maneira menos agressiva do que hoje. “As mulheres deixavam aparecer, no máximo, os seios. Hoje, além das fotos serem mais explícitas, as mulheres das revistas apresentam uma realidade distante, por conta do Photoshop. Em segundos, olhando uma revista de moda, a mulher sente uma sensação de depressão, porque nenhuma mulher é como aquela da revista.”
Sérgio fala das pin-ups de antigamente que, embora descortinassem uma sensualidade inocente, longe da vulgaridade atual, também tinham o mesmo apelo. Na sua opinião, o que se vê nas revistas, principalmente nas atuais, é uma mensagem nítida que remete ao corpo, sempre ao corpo. “Tudo está relacionado ao corpo e pouco à inteligência”, lança. E, quando a inteligência é destaque, é de forma estereotipada e com o intuito de conquistar alguém do sexo oposto.

Mulher Objeto

O publicitário realizou uma pesquisa com o tema “Mulher Objeto – A Representação da Mulher na Publicidade”, que serviu de base para um debate na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
O cunho sexual da publicidade ao longo das décadas, a representação da mulher ideal nos comerciais e a relação entre a mulher e a bebida são apresentados na pesquisa. Nela, há também indícios de um antigo preconceito que envolve mulheres e direção. Mas, o problema maior se dá na erotização, que afeta o crescimento das meninas. Isso porque a exploração da imagem feminina na mídia causa não somente depressão como distúrbios alimentares, ao passo que doenças como anorexia e bulimia já são parte do universo das meninas de 5 e 6 anos.
Segundo a cientista social Tânia Montoro, as revistas femininas são carregadas de estereótipos e funcionam como um consultório amoroso: ensinam como fisgar, como amarrar um homem, colocando a mulher no papel de submissa, que precisa sempre agradar o sexo oposto. E, ao que tudo indica, ser agradável o suficiente está em um nível distante, talvez distante demais para os meros mortais.

Vice-campeão mundial em cirurgias plásticas – perdendo apenas para os Estados Unidos – , o Brasil registra o movimento de milhões de reais em função da famosa indústria da beleza. Conforme pesquisa divulgada recentemente pela da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), só no ano de 2011 foram realizados mais de 905 mil procedimentos no País, o que representa um aumento de 43,9% em relação ao ano anterior. Em quatro anos, o crescimento foi de 97%.

Buscando desafios no coração da Europa

Encantado com a possibilidade de novas pessoas, países e cidades, outras culturas, comidas e sabores, Marlon foi para Londres e lá encontrou o "algo mais" que tanto procurava

Fabiane De Carli Tedesco


Quem assiste a filmes estrangeiros ou visita outros países, pode ter a impressão de que a vida é fácil, quando se enxerga somente o glamour desses lugares. A história que o Jornal Sul Brasil apresenta hoje é uma história que, embora seja bela, mostra que a vida em outro país depende muito do empenho de quem, corajosamente, abandona a sua zona de conforto.
Marlon Valesan, nascido em Toledo (PR) em 13 de maio de 1980, coleciona momentos incríveis do outro lado do oceano. A reportagem procurou Marlon na intenção de conhecer um pouco da sua vida em Londres e escrever sobre as suas experiências. Entra elas, o seu trabalho como chef, tendo ele cozinhado para a família real, e o seu encontro com a sua outra metade, que é de Passo Fundo (RS), mas estava explorando as paragens inglesas, assim como Marlon.
Em Cascavel (PR), na Universidade Paranaense (Unipar), nosso personagem se formou em Engenharia Agroindustrial. Naquela época, não imaginava que um dia iria se formar em Culinary Arts no Westminster College, em Londres. Foi em julho de 2005 que sentiu a necessidade de "algo mais". "Quando terminei a faculdade, me interessei em estudar inglês e me desligar da vida cotidiana do Brasil. A ideia de estudar inglês, conhecer novas pessoas, países e cidades, outras culturas, comidas e sabores, de estar no coração da Europa, me encantava muito. Então, vim em busca do desafio."
Claro que o estranhamento surgiu, por conta das diferenças culturais. Marlon diz que as diferenças são grandes entre o Brasil e a Inglaterra, sendo que a formalidade é uma delas. "Palavras como 'excuse me', 'please' e 'sorry' são extremamente importantes. Londres não é apenas Inglaterra. Londres é um centro de congregação de diferentes etnias e culturas que convivem entre si de maneira harmônica, onde não existem preconceitos."
Foi no mesmo ano de 2005 que Marlon encontrou a sua outra metade, Carlinha. No mês de dezembro, quando inicia o inverno no hemisfério norte, os dois se conheceram em um pub. "Depois de alguns encontros, percebi que tínhamos muito em comum. Após um ano, pedi ela em noivado no London Eye."
Hoje, o paranaense que tem família no Oeste de Santa Catarina, trabalha com transporte e logística em Londres. Até chegar onde chegou, muita estrada foi percorrida. "No início foi muito difícil, pois existe a barreira da língua. Como qualquer outro estrangeiro, comecei de baixo. Fui faxineiro do Chelsea Footbal Club e de um festival de música, fui garçon, segurei placas de propaganda e por aí vai".
Após algum tempo, conquistou o seu espaço com muito suor, sendo que o estudo foi fundamental para o seu crescimento profissional. "A oportunidade que tive no meu primeiro emprego como chef me custava 16 horas diárias no Inner Temple", lembra.

Dos momentos mais marcantes

Nos oitos anos já vividos em Londres, alguns momentos ficaram com mais intensidade na memória de Marlon. "Primeiro, foi ter conhecido my other half, minha esposa. Outro foi quando participei dos 400 anos de aniversário do Inner Temple, fundado pelos Cavaleiros Templários. Entre os ilustres convidados estavam Prince Charles, Gordon Brown (então primeiro-ministro) e Queen Elizabeth. Eu nem podia acreditar que estava lá. Foi tudo muito legal."

Menos um na fila de emprego

"Eu trabalhava em uma agência de empregos aqui em Londres. Era mais ou menos assim: você chegava na porta da agência lá pelas 5h30 e ficava na fila esperando pelos trabalhos temporários. Se alguém ficava doente em alguma empresa, eles ligavam para essa agência pedindo alguém para cobrir a pessoa que faltou. Podia ser por um dia ou por um mês."
Era o mês de janeiro e, no começo do ano, conseguir trabalho temporário é bem complicado em Londres, como revela Marlon. "Fui enviado para o Inner Temple para cobrir um faxineiro na cozinha. A princípio era para eu ficar só uma semana. Era uma cozinha com 16 chefs e seis faxineiros. Em um dos dias, um dos chefs se cortou no meio do serviço. Ele foi para o hospital e eu acabei largando o que estava fazendo para ajudar os chefs. Uma loucura, você não sabe para que lado correr."
No dia seguinte, o brasileiro foi chamado pelo chef executivo, que ficou sabendo o que tinha acontecido. Para a sua surpresa, foi convidado a ocupar o cargo de commis chef. "Foi muito legal saber que não teria que me preocupar em trocar de emprego sempre. Depois de cinco meses, ingressei o curso de Culinary Arts. Depois de completar o curso, fui promovido a chef de partie. Logo, trabalhei com chefs no Gherkin como chef de canapés. Por fim, fui trabalhar no Nomura Bank, em Canary Wharf. Hoje posso dizer que valeu a pena. Já tenho uma estabilidade e gosto do fato de poder passar as minhas férias em diferentes partes da Europa."

Sobre a venda da esquina

Em meio ao movimento intenso de carros e pessoas, que buscam auxílio nos escritórios de direito trabalhista, no INSS e na Secretaria Municipal de Saúde, em meio ao som dos bipes das senhas selecionadas, ao som das buzinas e ao som das conversas de espera, uma venda que sobrevive por mais de 50 anos. A venda da esquina do senhor Benetti nasceu em um tempo sem ruas, de muita poeira e pouca gente. Os frequentadores se comunicam através de brincadeiras, cumprimentam quem transita com pressa, falam de uma época que não volta mais. São poucos os que permanecem neste mundo. A maioria, como conta Benetti, partiu desta para uma melhor. Restaram as histórias e as fotos de um tempo áureo, em que todo mundo conhecia todo mundo. O entorno da venda não é o mesmo, a avenida não é a mesma. Cadê os rostos conhecidos? Já não se pode falar sobre o tempo, sobre o futebol, sobre a vida como antes. A vida é outra na Capital do Oeste. A cidade cresceu em volta da venda, que permanece intacta no café moído na hora e nos doces do baleiro antigo. Cinquenta anos é vida demais para não lembrar.

A antiga venda da esquina

Entre a Rui Barbosa e a Marechal Floriano Peixoto, a venda permanece, há 51 anos, colecionando histórias

Fabiane De Carli Tedesco


O cheiro de café moído na hora convida quem passa para entrar. A antiga venda da esquina recebe todos os dias, há mais de cinco décadas, visitantes desejosos por uma boa conversa. Domingos Albino Benetti, 76 anos, toma conta do lugar desde o ano de 1962. “É vida”, comenta o homem de poucas palavras, pelo menos quando se trata de falar com a repórter.
Entre a Rui Barbosa e a Marechal Floriano Peixoto, está a venda que Pedro Borsatto, 83 anos, frequenta todos os dias. Ele é o dono de um edifício muito famoso na cidade, o Edifício Borsatto, localizado na Barão do Rio Branco. Com 21 andares, o Borsatto é conhecido por ser um prédio de estudantes. Borsatto foi açougueiro e o seu estabelecimento era próximo da venda de Benetti. “Eu venho aqui para ajudar ele a lidar com os bandidos, passar as horas, botar a conversa em dia.”
Na parede da venda, uma foto de 1963 do time de futebol de Benetti, cuja sede ficava na Quintino Bocaiúva. “O time foi campeão, venceu um time da várzea. Agora, quase todos os que estão na foto morreram”, comenta Benetti. “Morei em Seara por um ano, com 19 saí e fui para o exército no Rio de Janeiro. Morei cinco anos em São Paulo e depois vim para Chapecó, já que meu pai tinha comprado este prédio”, conta objetivo a sua história, entre um cliente e outro.
Domingos não queria saber de ficar ali. Afinal, não havia nem rua naquela época nos arredores do prédio. Mesmo assim, montou a venda e ali permanece, há 51 anos. Hoje, percebe a mudança. “A cidade cresceu demais. Você vai na avenida e não encontra mais nenhum dos antigos. Estão todos no cemitério. Ficaram os filhos, que vendem os terrenos, botam fora o que os pais conseguiram depois de uma vida toda de trabalho.”
Logo, outro frequentador assíduo aparece. Nicola Lunisa, 78 anos, tinha nas redondezas um depósito de bebidas. O aposentado comenta que o dia está especialmente movimentado. De quando em quando, os amigos tentam interagir com quem passa, com pressa, pela esquina da antiga venda. Alguns param, fazem brincadeiras, compram alguma coisa. Outros não têm tempo para perceber a história que mora na venda da esquina, que viu crescer em seu entorno, antes empoeirado pelas estradas de chão, a Capital do Oeste de Santa Catarina.

Isto é um jornal


Sou sonhadora o suficiente para ver um blog como um jornal. E como é fácil abrir um jornal assim! Como sempre gostei de arte e cultura, mas nunca tive a chance, por muito tempo, de trabalhar em um caderno ou editoria cultural, aqui estou. Editoria Viva é isso: arte e cultura. Viva é arte, Viva é cultura. Jornalismo é isso: ele é vivo, ele é primo da arte, ele é cultura viva e ele anda de mãos dadas com a história.
Neste blog, vou postar textos publicados no jornal para o qual trabalho ou não. Logo, os leitores vão poder perceber a minha queda pela literatura. Quem sabe um dia terei um caderno cultural que dure, uma editoria de cultura com o meu nome. Quem sabe, este blog vá longe. Só o tempo vai dizer. Claro que não é o meu primeiro. Sou da geração dos blogs. Por isso a minha dúvida. Blogs chegam e partem, sem explicação. São assim mesmo, livres.
Aproveitando a apresentação, sou jornalista formada pela Universidade Comunitária Regional de Chapecó (Unochapecó) desde o ano de 2009. Mas em 2003 já trabalhava na área. Estudei Jornalismo Literário, Cinema Digital e Filosofia. Me encanto com as artes gráficas. Sou artesã de carteirinha, literalmente. Escrevo contos, crônicas e poemas desde muito nova. Fotografo e escrevo diariamente, já que o jornalismo impresso é o meu meio de vida. Já trabalhei em outras áreas do jornalismo, mas não troco o impresso assim tão fácil.
Casada de coração, escorpiana, mais ou menos instável, aventureira, inconformada, adoradora de café, fumante assumida, bagunceira e seletiva, sou mais conhecida como Fabita. Digamos que este seja um nome artístico, surgido ainda no tempo de faculdade. Fabiane De Carli Tedesco ou Fabita é uma pessoa que ama viajar de todas as formas possíveis. Tenho poucos amigos e sou bem família. Amo o que faço e gosto de onde estou, mas estou sempre querendo conhecer novos lugares.
Quando estou trabalhando, deixo fluir meu ascendente em gêmeos, que me permite ser mais expansiva e menos "na minha". Sou uma mulher de quase 30 totalmente fora do padrão. Um pouco pela genética, outro tanto pela teimosia. De qualquer forma, me aceito, pelo menos na maioria dos dias. Guardo um ar meio europeu, herança dos filmes que vi e dos livros que li. 
Morei em diversos lugares. Desde pequena, nos mudamos muito. Minha mãe, do tipo guerreira, é um belo exemplar de mulher pós-revolução sexual. Nos anos de 1970, ela já causava furor por onde passava. Ela é uma das minhas inspirações, já que sou órfã de pai desde os quatro anos. Ela me lembra muito a Susan Sarandon no filme "Em Qualquer Outro Lugar".
Enfim, já escrevi demais para um primeiro texto. Nos vemos entre os textos de arte e cultura. Eles sempre capturam um pouco de mim.

Até breve.