sexta-feira, 10 de maio de 2013

O precioso conhecimento de uma parteira


Pelas mãos de Mariinha, incontáveis crianças vieram ao mundo

Por Fabiane De Carli Tedesco

Tantas crianças vieram ao mundo pelas suas mãos, que ela já perdeu a conta. Maria Celestina Rodrigues mora em uma casa perdida no tempo, em uma estrada de terra do Toldo Chimbangue, interior de Chapecó. Parteira, Maria, mais conhecida como Mariinha por conta da baixa estatura, também conhece o mistério das ervas, das quais extraiu remédios que, ao longo dos anos, curaram a sua família.
Mariinha, 83 anos, começou a fazer partos com 25 anos. Pelas suas mãos, nenhuma criança morreu. Para ela, o trabalho da parteira é importante e acredita que nascer pelas mãos de uma parteira é sempre melhor do que nascer pelas mãos de um médico de hospital. Nascida em Pinhal – pertencente ao município de Seara (SC) –, ela não se lembra em qual foi o dia em que nasceu. Mas uma coisa é certa: nasceu em casa, como era comum em seu tempo.
Mãe de oito, avó de incontáveis, bisavó de mais de 30 e tataravó de mais de uma dúzia, Mariinha teve o primeiro filho aos 14 anos e, depois de tanta vivência, ainda cuida de uma filha adotiva que está acamada. Além de parteira – ofício aprendido com a sogra – e criadora de remédios, ela trabalhou na roça, criou porcos e vacas de leite. Nunca passou os ensinamentos adiante, já que as novas gerações preferem a medicina dos hospitais ao invés da medicina da antiga cultura que, pouco a pouco, perde o seu impulso vital. Benzedeiros e médicos de ervas que já fazem parte de uma cultura extinta, desconhecida por muitos. Movidos pela ignorância, passam veneno nas terras, onde já não nascem as plantas de outros tempos.
Viúva há quatro anos, Mariinha certa vez foi ao médico e ele a desenganou. “Voltei para casa para morrer. Mas Deus foi o meu médico e ainda estou aqui.” Os filhos nunca perderam a esperança e deram a ela os remédios que a mãe sempre receitou às pessoas. “Minha mãe sempre salvou vidas e Deus sabia que ela também precisava ser salva”, comenta o filho Sebastião Antunes de Lima. Para Sebastião, Dia das Mães é todo o dia, embora exista apenas um dia comemorativo reconhecido. A alegria dele e dos irmãos é poder passar este dia ao lado dela, um privilégio aos seus olhos.
Segundo Mariinha, o que ela preserva após tantos anos de vida é algo chamado felicidade. “Me sinto feliz por ter os meus filhos por perto. É muito bom para uma mãe que, como eu, adora os seus filhos. Consegui criar os filhos, mostrando a eles o bom caminho. Como mãe, me orgulho por não ter nenhum filho no mau caminho. Eles não me deram trabalho, nunca foram da baderna.”
Mariinha guarda conhecimentos antigos, é dona de cores e símbolos mágicos, de lendas e costumes esquecidos. Na varanda, ascende o paiero e comemora, com um sorriso tímido, o dia em que as suas memórias estamparam as páginas de um jornal, inspirando tantas e tantas mães que celebram este dia mais do que especial.