Aos cinco anos, caixinhas de fósforo presas por um fio eram a sua
maneira de se divertir e de se comunicar. Sessenta anos depois, a comunicação
ainda é o seu mundo
Por Fabiane De Carli Tedesco
Colaboração: Gesélio Catalan
No Dia Mundial da Liberdade de
Imprensa, celebrado em 3 de maio, o Jornal Sul Brasil encontrou uma figura que
faz história nas ondas do rádio. Ivo Mendez, mais conhecido como Marquinhos, é
um comunicador que teve o seu início ainda na Ditadura Militar, no ano de 1976.
Além de comunicador/radialista, Marquinhos foi artista de circo, faz mapa
astral, é inventor – tendo recebido o apelido de Professor Pardal –, cantor e
eletrônico formado. De quando em quando, ele ainda sai pelas ruas de Chapecó
vestido de palhaço, munido de seu violão italiano ornado de rosas.
Nascido “no dia em que a beleza
entrou em férias”, como diz, em 11 de setembro de 1947, na cidade de Abelardo
Luz (SC), aos cinco anos já se comunicava com os amigos à distância, por meio
de caixinhas de fósforo presas por um fio. Ele não sabia que o rádio existia –
só soube aos 11, 12 anos –, mas já conhecia a música. O apreço pela música o
segue até hoje, já que Marquinhos é um grande admirador da música clássica,
sentimental e italiana, sendo que o sertanejo de raiz tem um canto especial na
sua vida. São músicas que ele busca no fundo do baú, surpreendendo ouvintes e
colegas de profissão.
Em casa, Marquinhos guarda uma
coleção de 800 discos de vinil e um Fusca 1976 – ano que marcou a sua estreia
no rádio. Ao falar em carro, ele lembra de um acidente que quase tirou a sua
vida e resume: “Nasci de novo”. Conhecido por ajudar as pessoas, Marquinhos
acredita que é importante fazer o bem sem esperar recompensas. “A maior
recompensa é ser feliz”, comenta. A voz calma e aveludada ainda ganha as ondas
do rádio 37 anos depois, misturada às notícias que também compõem o seu “Show
da Noite”.
Durante os quase 40 anos de
rádio, Marquinhos já sentiu o poder da crítica e da incompreensão. Momentos em
que o elogio não chegou, ferindo o que ele chama de “ego profissional”. “Tem
sempre uns amigos da onça que não querem ver o seu triunfo e que invejam o seu
carisma. Quando você recebe um ‘não’ como resposta, isso mancha o seu dia. Mas
eu confio no meu talento e sempre digo: ‘se a sua estrela não brilha, não tente
apagar a minha’”.
Nos tempos de ditadura, o
comunicador diz que jogou limpo. “Sempre fui claro e agi sem medo das
consequências. Já tratei de assuntos polêmicos, mas sempre com educação, agindo
dentro da legalidade.” Na comunicação, trabalhou com televisão e também com
jornal impresso, onde fazia reportagens, mas foi no rádio que encontrou o seu
lugar ao sol. Ao longo dos 37 anos de rádio, percebeu o quanto a tecnologia
mudou dentro e fora dos estúdios. Os discos de vinil e as fitas K7 deram lugar
aos CDs e aos disquetes, que mais tarde foram também substituídos.
Aposentado, o comunicador não
consegue se desvencilhar do rádio. “O rádio é a minha vida. É isso: o rádio,
para mim, representa a vida.” O segredo para permanecer no ar por tanto tempo?
“Carisma. O público gosta de alegria, gosta de quem sorri e de quem o faz
sorrir. Isso, não tem dinheiro que pague.” A alegria o acompanha desde a sua
estreia no rádio, quando apareceu em uma emissora, meio palhaço, meio cantor,
para se apresentar para mais de 600 pessoas. “Eu não tinha um vozeirão, mas o
dono do rádio gostou de mim e pediu para que eu voltasse.” Cantou músicas
espanholas, pouco conhecidas pelo público chapecoense, e músicas italianas.
Trinta e sete anos depois, Marquinhos ainda encanta milhares de ouvintes. “Não
gosto de falar do meu trabalho; prefiro que as pessoas vejam (ou no caso ouçam)
por si mesmas.”